- W3 sul, tem lugar pra ir sentado, tá vazio!
_ Vai, rodoviária, (suja, ordinária).
Corre para o eixinho,
Pega, pede implora para o cobrador da lotação um cantinho,
Você se abaixa na barreira.
Vai, pega o baú, a combinha, a carona, pede carona.
Vai se embora, suma daqui!
Vai pra casa, vai pra cama, e dorme, dorme em paz,
E se possível não volte mais.
Porque aqui ninguém te quer.
Você é feio, você é pobre, você precisa.
Você não combina com a mansão do Lago Sul,
Você é preto, você é índio, você é nordestino.
Você trabalha você não descansa, você acorda cedo, você mora longe...
Vai-se embora, não volte.
Brasília não te quer,
Te escorraça todo dia.
E ainda assim você a lambe nos pés...
Brasília te humilha te ignora, e você ainda torce por ela,
Ainda vota pelo asfalto em frente ao seu portão
Ainda põe o nome na lista da cesta básica
Ainda acredita que o teu filho fará direito na UNB.
Você estuda pra concurso público, perde o domingo tendo fé.
E ainda torce para que o vizinho também passe,
E quando não encontra o nome na lista dos aprovados, pensa que estudou pouco,
Que da próxima vez chega lá.
Mas você não vai,
Ninguém te quer estudado, ninguém te quer seguro,
Ninguém quer que o teu filho tenha futuro.
Ninguém te quer aqui,
Brasília nunca foi teu lar, nunca te deu nada,
E tirou tanto de você...
Tirou sua juventude, o brilho dos teus olhos, a cor dos teus cabelos...
Não vê que você não cabe em Brasília?
A tua fé não serve pra nada nessa terra,
O teu Deus não vai te alcançar...
Vai embora antes que a tua dor vire ódio,
Antes que você perca o pouco que te resta,
Vai, enquanto você ainda tem pernas...
Depois?
Depois a miséria só cresce, toma conta do corpo,
Quando ela passa estampada na frente dos nossos olhos
A gente segura mais forte a bolsa, abaixa a cabeça, quase corre...
Fuja dessa tristeza de cidade grande, dessa frieza de cidade fabricada,
Porque você persiste nessa tentativa inútil de aceitação?
A tua miséria não combina com a noite do plano piloto,
Depois das 19h ninguém quer ver a tua cara de cansaço
Vai embora
Deita o teu rosto triste no colo que te cabe,
E deixa que o tempo passe,
Não adianta nada,
Brasília é uma cidade amargurada.
O mundo é.
E já desistiu de ti.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Jequitibá

Escrevi uma poesia sem asas,
Para esquecer de voar.
Uma poesia encravada na terra,
De raiz profunda,
Escrevi um jequitibá.
Nunca escrevi uma árvore,
E árvores não sei desenhar,
Também nunca fui uma
Ainda não aprendi a enraizar.
Cansei do sem fim do céu,
Agora escrevo sobre o que posso tocar,
Não vou mais me perder em versos alados,
Quero uma sombra pra descansar.
terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sempre-Vivas
Não morro inteira
Porque quero sempre vivas no meu jardim.
Quero janeiros
E margens de rio.
Quero um dia parar
E encontrar teu nome riscado a giz
Na calçada da frente.
Teus olhos infantis
Sublinhados nos meus,
Nossos passos lado a lado.
As flores ensolaradas
Com as asas da manhã.
sábado, 6 de agosto de 2011
Por um triz
Para a felicidade eu não tenho escrúpulos,
Eu te dou meu peito,
Entrego o que é teu de direito.
Te encho de sorrisos
E meio sem jeito
Eu fico feliz.
Mas é por um triz.
Porque tenho medo
Desse jeito estúpido
Que te acompanha,
Desses tantos venenos
Que a tua língua solta,
Desses teus dedos
Que me rodopiam,
E que descuidados
Não me aliviam,
Me fazem tonta
Cair no chão.
Mas é por um triz.
domingo, 31 de julho de 2011
Ameixas

Mordo a ameixa
Como se fosse um pedaço de boca,
Macia, vermelha, doce.
Sinto no fim um amargo gosto de casca,
Fazendo-me estremecer.
Podia comer todas as ameixas do mundo
E sonhar que são bocas,
E assim comê-las todas também...
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Expressionismo
No baile da vida
Minha cadeira é cativa,
De longe acompanho o rodopio do salão.
Cansei de rodar sozinha,
Não sei dançar o dois pra lá dois pra cá.
A roda da saia amarela,
(Sol em chamas queimando pele)
Deita no colo parado
E acompanha o cruzar de pernas,
Farfalha no bater do pé.
A mão irrequieta procura poesia
Mas a vida é.
Minha cadeira é cativa,
De longe acompanho o rodopio do salão.
Cansei de rodar sozinha,
Não sei dançar o dois pra lá dois pra cá.
A roda da saia amarela,
(Sol em chamas queimando pele)
Deita no colo parado
E acompanha o cruzar de pernas,
Farfalha no bater do pé.
A mão irrequieta procura poesia
Mas a vida é.
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