sexta-feira, 13 de maio de 2011

Expressionismo

No baile da vida
Minha cadeira é cativa,
De longe acompanho o rodopio do salão.
Cansei de rodar sozinha,
Não sei dançar o dois pra lá dois pra cá.
A roda da saia amarela,
(Sol em chamas queimando pele)
Deita no colo parado
E acompanha o cruzar de pernas,
Farfalha no bater do pé.
A mão irrequieta procura poesia
Mas a vida é.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

No país das maravilhas



Não há mais nada.
É como uma Alice pós-moderna,
Pré-Balzaquiana que eu digo.
Não há pra onde crescer,
Não há como sentir-se menor.
Nesta mesma pele eu mudei tanto
Que não reconheço mais no espelho o meu passado.
O tempo não fez as pazes comigo
E eu não possuo chaves,
Não encontro portas.
Nenhum gato de cheshire com sorriso de meia-lua
Nenhuma rainha de copas jogando croqué.
Encontro apenas miséria e desamor.



_Uma Alice Amargurada_é o que sou.
Na fila do ônibus,
Adormecida na cama vazia
Despertando antes de por fim aos sonhos...
Sem lebre de março,
Sem lagarto fumando narguilé,
Sem encanto.
Uma Alice sem coelho branco.

Sala de Espera

Esse não sei o quê não sei o que é,
Bate e cala,
(Bate o coração, mas a boca cala).
Espera de não saber o que esperar,
Nem de mim nem dos outros,
A vida bate ponto todo dia,
E ela não dorme comigo,
A vida não para nunca,
Eu mesma já desisti de acompanhar,
Mas esse não sei o quê sem fim
Insiste em perturbar minha paz de desistente,
Eu já disse que nem quero saber,
Mas a sala é de espera,
E eu estou sentada lendo uma revista,
Aguardando a minha vez,
(De quê eu não sei)
A vida me arrastou até aqui e não entende que eu já desisti,
Que eu preferia estar ao sabor do vento,
(Ah, lá fora pela janela eu vejo: tem um pipoqueiro me esperando).
Tomara que chegue logo a minha vez,
Eu detesto filas, detesto esperas, detesto revistas velhas.
Eu gosto é de sol, de infância, de circo chegando à cidade,
Em algum momento,
Ainda com sono,
Sem perceber,
Eu devo ter dito sim,
E vim parar aqui,
Eu juro que me enganei,
Mas parece que não dá para mudar de idéia,
(O pipoqueiro se foi, e eu aqui com uma vontade danada de correr atrás dele).

A barata

A criança rosada
Riu sozinha
De sua nova descoberta.
A barata em suas mãos
Contorce as anteninhas
E dá seu último suspiro.
A boca já aberta aguarda ansiosa
O gosto da morte.

O gato

O gato dormia no degrau da escada,
Gatos velhos dormem muito,
Além do mais,
Foi esquecido no natal,
Léo tinha um novo robô
E os cabelos da boneca de Fabiana cresciam
Como a grama verde do quintal.
Ele só dormia e esperava...

Bigodes de gato voltam a crescer?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Brief Encounter

Longe de mim
Cor cinza,
Língua estrangeira,
Teu coração apertado
Desandou o meu,
O teu abraço perdido
Alimentou meu suspiro
Fiquei vazia.
O espaço entre meus braços
E tudo que não te participa
É feito de tempo.
Entre cafés
E detalhes
Te esqueço.
Entre a cama desfeita da noite
E a manhã aguada de sol e varais
Te ponho pra fora.
Guardarei comigo
Só o que me consola
Teus olhos.

O palhaço

O palhaço sem graça
No picadeiro enorme,
Me trouxe um engasgo no peito,
Fiquei sem graça de rir,
Me vi nele.

Desencanto

A boca vadia
Cantarola baixo, nomes feios.
O olhar se esconde
Em corredores imaginários.
Nervosa, a mão firma o dedo do meio;
É inútil, diz o sorriso seco na nova morada.
O rosto traz uma cor de quem não quer mais nada,
A língua guarda o gosto ocre do desencantamento,
O dedo em riste não dói,
O que machucava era a mão aberta.
A alma suspira;
Foda-se.

Noturna

Calei a noite
Soquei sua boca
E enchi seu céu
De estrelas.

Cálida

Sem recalque e sem requinte,
Saias vaporosas
Noites tépidas,
Pernas, seios, mãos;
Quente e úmido.
Verão entre as coxas,
Quase natal nos teus olhos.